segunda-feira, 2 de abril de 2018

ESQUERDA QUE HÁ 2 ANOS FOGE DA AUTOCRÍTICA DÁ NISTO: ARTIGO DE JOSÉ PADILHA A REDUZIU A PÓ DE TRAQUE!

Por Celso Lungaretti
Este blogueiro mantém sua decisão de publicar textos inteligentes, que fujam à mesmice rasteira das redes sociais, mesmo quando o autor não for um cidadão acima de qualquer suspeita.  

Maus momentos qualquer ser humano tem, mas precisamos diferenciar os indivíduos que pregam e praticam a desumanidade em tempo integral (o Jair Bolsonaro, p. ex.) daqueles que apenas pensam diferente da maioria e, mesmo não estando errados nem sendo direitistas empedernidos, sofrem estigmatização e desqualificação injustas, porque jogar sujo é mais fácil do que contestar suas análises.

Tratar alguém como herege é retroceder à intolerância dos fanáticos religiosos da Idade Média. Não tem nada a ver com a missão da esquerda conforme Marx a definiu: conduzir a humanidade para um estágio superior de civilização

Assim, sem recuar um milímetro das críticas outrora feitas a José Padilha por ter relativizado o horror das torturas no fascistoide Tropa de Elite (2007), eu posto em seguida algumas considerações inteiramente válidas que ele teceu a respeito da sua última criação. Os grifos são meus e o artigo do Padilha completo pode ser acessado aqui.
Por José Padilha

"A série O Mecanismo é uma dramatização inspirada em um conjunto de acontecimentos reais, apresentada de forma a ilustrar uma tese. Eis a tese, em cinco enunciados:

a) No Brasil, a corrupção não ocorre esporadicamente; ela é o mecanismo estruturante da política e da administração pública, um mecanismo que opera nos municípios, nos estados e no governo federal; no Executivo e no Legislativo, e também nas cortes judiciais constituídas por indicações políticas

b) As campanhas de todos os grandes partidos do Brasil são financiadas por empresas que trabalham para o Estado. Uma vez eleitos, políticos desses partidos montam coalizões com base na distribuição de cargos que auferem controle sobre o orçamento público. Quanto mais poderoso for um político, maior o quinhão que lhe cabe.

c) O Estado, assim loteado, contrata as mesmas empresas que financiam as campanhas políticas dos grandes partidos, superfaturando orçamentos.

d) Parte da fatura se transforma em financiamento de campanha para o próximo ciclo eleitoral, e parte vira caixa dois e propina. 
e) O mecanismo não tem ideologia; ele opera nos governos de esquerda e de direita.

...Sabendo que o mecanismo existe, podemos afirmar que:

a) Se a nova lei de delações premiadas tivesse sido sancionada com o PSDB no poder, os políticos denunciados teriam sido Aécio, Serra e FHC. Mas, como a lei foi sancionada com PT e PMDB no poder, os políticos denunciados foram Palocci, Lula, Cunha, Cabral e Temer.

b) A mídia de direita usou essa contingência histórica para atacar a esquerda, como se a direita não fosse corrupta.

c) O PT usou essa contingência para acusar a Lava Jato de partidarismo, como se não fosse inevitável que petistas fossem pegos primeiro, dado que estavam no poder.

Criou-se (...) um ambiente irracional e polarizado, em que o dogmatismo ideológico da esquerda radical e o cinismo pragmático da direita fisiológica passaram a trabalhar juntos para negar o inegável, o fato de que todas as lideranças políticas dos grandes partidos brasileiros são corruptas.

Hoje, vemos os formadores de opinião de esquerda e os membros da direita fisiológica de mãos dadas, pressionando o STF para cancelar a prisão após condenação em segunda instância.

Afinal, para a esquerda isso garantiria a impunidade de Lula; para a direita, a de Aécio, de Temer, de Jucá... O mecanismo, é claro, agradece.

Confesso que esperava mais dos formadores de opinião da esquerda. Pensei que em algum momento da história fossem acordar do estupor ideológico e ajudar pessoas de bem na luta contra o mecanismo que opera no mundo real, em vez de se associar a ele para lutar contra o mecanismo exposto na Netflix"

7 comentários:

Anônimo disse...

Papo furado!
PSDB = impunidade
Judiciário ideológico e partidário = PSDB
Náufrago da Utopia = Ódio ao PT por motivos utópicos

celsolungaretti disse...

Já que você não assinou, eu desconheço quem você seja.

Mesmo assim, você me dá medo.

Medo de que a esquerda, à qual já dediquei meio século da minha vida, tenha se tornado uma seita igual às dos pastores da Igreja da Santa Grana.

Quando procuradores de Justiça conseguiram desencavar provas irrefutáveis contra a mais próspera dessas igrejas e um jornalão de São Paulo publicou reportagens estarrecedoras detalhando todos os esquemas de estelionato, lavagem de dinheiro, curandeirismo e lavagem cerebral, o chefão reduziu tudo a uma armação do demo e os otários do rebanho acreditaram!

Se, depois do mensalão e do petrolão, vc vem dizer que é tudo coisa dos tucanos, me faz temer que estejamos formando uma geração de esquerda semelhante à dos zumbis da picaretagem religiosa.

Se isto ocorrer, tudo estará perdido. Viraríamos mesmo, definitivamente, farinha do mesmo saco.

Anônimo disse...

Ok, já que eu fiz uma definição rasteira a respeito do "naufrago", era provável que acontecesse o mesmo.
Não me considero um zumbi esquerdista, mas eu não engulo o fato de que determinados agentes políticos contem com a simpatia de parte do judiciário. Na minha ótica enquanto não houver um tucano atrás das grades, a narrativa a respeito da luta contra a corrupção não passará de uma balela, e isso não se trata de uma polarização tosca mas sim de uma interpretação crua dos fatos.

SF disse...

...
Pãos ou pães é questão de opiniães...

Esse é grande problema dos rótulos e da persona.

Tem um nome bonito - alteridade.
Isso de ser em relação a alguma coisa.
Assim, o ego se reconhece nas relações com os demais. Dessa forma se define, de acordo com a imagem que o espelho (o outro) reflete.

Grupos fechados favorecem e fortalecem a ilusão de parecer o que a persona aparenta ser.

Então, quando alguém diz algo que mostra que somos todos iguais ou muito semelhantes na tibieza moral que caracteriza a humanidade, vociferam as máscaras.

Triste, mas há um antídoto.

Lembre que todo e qualquer ser humano é um saco de pele cheio de fezes, sangue e urina.

Contemple mentalmente esse saco de esterco querendo aventar-se ser melhor ou diferente dos outros.

Alguma humildade pode surgir desse exercício.

O que Padilha disse foi isso, somos todos corruptos em maior ou menor grau. E toda a atividade de governo envolve troca de favores.

É verdade.
Tanto o saco de estrume quanto a necessidade de barganhar com o dinheiro dos impostos para se manter no poder.

A verdade dói.
Mas liberta.

celsolungaretti disse...

Entendo o seu sentimento, Anônimo, mas sou contemporâneo (um pouco mais novo) do Lula, do Zé Dirceu, desse pessoal todo. E não consigo entender como puderam acreditar que, participando de maracutaias como as dos políticos de centro e de direita, receberiam o mesmo tratamento (a impunidade). Que pisada na bola!

Fazer o quê, agora? Alegar que, acusados ou condenados pelos mesmos delitos, os tucanos continuam voando livres e os petistas vão pra gaiola? Isto pode sensibilizar pessoas comuns, mas juízes querem saber se são inocentes ou culpados no caso em questão. E inocentes eles realmente não são, mesmo que seja difícil provar.

Até contra um chefão do crime organizado como o Al Capone, responsável por (no mínimo) dezenas de mortes, a Justiça dos EUA não conseguiu provar nada além de sonegação de impostos...

O certo é que o Padilha fala a verdade quando diz que o PT entrou no esquema geral da corrupção que grassa no topo da sociedade brasileira. Lamentavelmente.

Tapar o sol com a peneira não adianta, o povo sabe que a roubalheira existe e que o PT é parte dela.

Tem é de fazer uma autocrítica radical, mudando muita coisa, para recuperar a credibilidade.

celsolungaretti disse...

SF, você é devoto do Santo Agostinho ("entre fezes e urina nascemos")?

Eu da ficção-científica -- não daquela que deslumbra o leitor com engenhocas do futuro, mas da que projeta as mudanças de comportamento que advirão de cenários diferentes, sejam os apocalípticos, sejam os decorrentes dos avanços científicos e tecnológicos. Robert Silverberg, Philip K. Dick, Ray Bradbury e que tais.

Então, o que me parece é que cada vez mais pessoas vivendo em realidades paralelas, acreditando no que está nas suas mentes e não no que o noticiário escancara, idolatrando pilantras apesar das gritantes evidências da pilantragem.

Se o ótimo trabalho dos procuradores paulistas e a série impecável do jornal O Estado de S. Paulo não conseguiu despertar os zumbis da Igreja Universal do seu sono letárgico, que chance tenho eu de despertar os zumbis do Populismo Terminal? Bem poucas.

Desafortunadamente, passei a vida inteira empenhado em mostrar às pessoas a realidade atrás das ilusões que lhes impingem. Agora, no fim da trajetória, não sei fazer outra coisa.

Então, enquanto me restarem lucidez e força, vou continuar dizendo para os zumbis que o rei está nu. Sabendo antecipadamente que quase ninguém será capaz de, ou quererá, ver.

Um abração!

SF disse...

...
Sou um beradeiro momentaneamente na beira do Rio Madeira.
E vivi boa parte da minha vida longe da cidade grande.

A bem dizer nunca li Santo Agostinho.
Devo dar o crédito da frase ao guru A.C. Baktivedanta Swami Prabhupada.

Acrescendo que nunca me aprofundei na sua filosofia.

No meio da correria eu ouvia ou lia algo que mostrava sabedoria e anotava mentalmente.

Essa é uma das frases que gravaram indelevelmente na memória.

"Um saco de estrume, sangue e urina".

E já se vão quase 40 anos que escutei.

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